Thomas Zwijsen, o violonista belga que ganhou o mundo tocando Iron Maiden

Foto: Maele Finger
Entrevista originalmente publicada no site rockmania.com.br, em 05/03/15

– OLÁ, THOMAS! COMO VAI VOCÊ? SEJA BEM-VINDO!

– Olá, tudo bom, e você? Muito obrigado, eu estou muito bem e animado para esta entrevista.

– VOCÊ FOI GUITARRISTA DE BLAZE BAYLEY NO DISCO “THE KING OF METAL”. COMO FOI ESSA EXPERIÊNCIA?

– Bom, foi uma experiência muito legal, é claro! Eu conheci Blaze alguns meses antes de gravar o “The King Of Metal”, quando eu estava gravando meu primeiro álbum “Nylon Maiden”, e eu pedi para Blaze ser o convidado no álbum para gravar The Clansman. Então eu o convidei para vir ao meu estúdio na Holanda, que é onde eu moro. A esposa dele é belga, então fica bem perto de minha casa. Então quando ele estava visitando sua família veio até meu estúdio, e nós nos demos muito bem, gravamos Clansman e ele gostou muito. Alguns dias depois eu estava comemorando a noite de ano novo, então é claro, eu estava bebendo e festando, então Blaze me ligou e disse: “Eu realmente gostei de estar no estúdio com você. Você pode vir à Inglaterra, para trabalhar no ´King Of Metal`?” Então, é claro que eu fiquei muito feliz e viajei para a Inglaterra e nós compusemos o álbum em sua casa em Birmingham. Então nós viajamos para a Itália e gravamos a maioria das músicas, e depois nós viajamos para a Holanda e gravamos mais algumas músicas. O mais legal de tudo foi que ao final da gravação do álbum, nós não tínhamos mais dinheiro para finalizá-lo. Então nós ligamos para Steve Harris, e ele disse: “É claro que vocês podem usar meu estúdio”. Então nós fomos até a casa de Steve Harris na Inglaterra, e usamos seu estúdio para terminar a mixagem do álbum, com Tony Newton, que também trabalha como engenheiro de som do Iron Maiden. Então nós finalizamos o álbum na casa de Steve Harris, o que para mim era como um lugar de peregrinação, e foi muito legal ter feito isso lá. 

– QUANDO VOCÊ COMEÇOU A TOCAR AS MÚSICAS DO IRON MAIDEN NO VIOLÃO?

– Quando eu estava na faculdade eu estudei violão clássico. Mas eu estava um pouco entediado com o repertório das aulas, porque elas têm muitas músicas antigas, que servem para melhorar a técnica, mas não são muito legais para se ouvir, na minha opinião. Eu era um grande fã de Iron Maiden, que se tornou minha banda preferida desde o momento em que a conheci. Então um dia, quando eu estava em uma loja testando um violão com cordas de nylon. Eu toquei a intro de Wasted Years, então eu pensei que poderia fazer uns arranjos nas bases e tocar músicas inteiras com apenas um violão. E deu certo, eu botei um vídeo no youtube, e ele teve muitos views, e eu nunca tinha publicado nada no youtube antes, e foi muito legal o feedback que eu tive dos fãs do Iron Maiden. E é uma coisa nova, ninguém fez isso antes. E isso acabou trazendo os jovens para os concertos, que geralmente atraem somente as pessoas mais velhas. E hoje em dia estou com mais de seis milhões de views no youtube, então eu creio que foi uma boa escolha.

– QUANDO VOCÊ COMEÇOU A TOCAR?

– Meu pais me botaram numa escola de música quando eu tinha 9 ou 10 anos de idade. E eu realmente não gostava muito daquilo. Mas quando eu comecei o colegial eu tocava Iron Maiden no violão, e eu tinha um professor legal, que me mostrou algumas músicas flamencas, latinas e também brasileiras, como Tom Jobim, Benito Di Paula e Villa Lobos. Então eu realmente comecei a gostar de violão clássico, e passei a tocar bastante. Também comecei a tocar guitarra em uma banda de heavy metal. Então eu comecei a estudar bastante quando eu tinha uns 16 anos de idade. Antes eu tocava, mas não gostava muito. E meu pai fazia, ele mesmo, violões clássicos, então eu podia escolher entre vários violões em minha casa, e sempre tive violões bons para tocar, e isso é importante na minha opinião.

– VOCÊ NASCEU NA BÉLGICA E VIVE NA HOLANDA. POR QUE ESSA MUDANÇA DE PAÍS?

– Não é bem uma mudança de país, pois é como se fosse um país apenas, Bélgica e Holanda. E eu vivo bem perto da fronteira. Todos os dias eu atravesso a fronteira. Quando eu vou tomar uns drinques, atravesso a fronteira, quando volto para casa, atravesso novamente. Eu nasci na Bélgica e vivo na Holanda, mas eu sinto como se fosse apenas um país.  

– QUAIS SÃO SUAS MAIORES INSPIRAÇÕES MUSICAIS?

– Eu tenho várias, mas nesse momento, a maior de todas é Vicente Amigo, um violonista espanhol, que toca música flamenco, mas não a tradicional. Ele toca a música flamenco misturada com jazz, com música latina e irlandesa. Ele utiliza em suas músicas instrumentos como violino e flauta. Ele tem um disco muito legal chamado Tierra, seu mais recente álbum. É tão bom que eu escuto todos os dias, e nunca me canso. Além disso, eu gosto de algumas bandas de heavy metal, como, é claro, Iron Maiden. E também gosto muito do trabalho solo de Bruce Dickinson, de Dream Theater, Helloween, Edguy, Avantasia… E Deep Purple, é claro, que é uma de minhas bandas preferidas. Steve Morse é um dos melhores guitarristas que eu já vi tocar.

– COMO VOCÊ VÊ A CENA DO ROCK ATUALMENTE, AO REDOR DO MUNDO?

Foto: Divulgação

– Ao redor do mundo eu vejo muitas diferenças, como entre a Europa e o Brasil. No Brasil o Iron Maiden continua sendo mainstream. Você pode ouvir Iron Maiden no rádio. Ou quando você sai na noite e vai a um clube, como o Manifesto, em São Paulo. No Rio de Janeiro você pode ir ao Teatro Odisseia, em Pomerode tem um clube muito legal, o Wox. São lugares que tocam Rock e Heavy Metal. Na Europa os clubes tocam músicas de merda como Kanye West e Rihanna, essas porcarias. O legal na Europa é que temos clubes no underground, eles não são muito famosos, e são locais menores, mas os fãs acham muito legal. Os lugares que mais gosto de tocar na Europa são Alemanha, República Tcheca e Bulgária. E é claro, como eu toco violão clássico, posso tocar em lugares como teatros ou bares de jazz, ou seja, tenho mais opções do que apenas os clubes de Rock. 

– NOS FALE SOBRE MOMENTOS INESQUECÍVEIS EM SUA CARREIRA.

– Tem alguns shows, especialmente no Brasil, que são inesquecíveis para mim. Minha primeira turnê aí foi muito legal, eu nunca tinha visto fãs tão loucos antes. Em Vitória, onde foi um dos meus primeiros shows no Brasil, os fãs vinham ao hotel me trazer presentes, pedindo autógrafos. Em Santo Ângelo toquei um show acústico para mais de mil pessoas, o que na Europa provavelmente não seria possível. E tive muitos outros shows inesquecíveis, como o de lançamento de meu álbum em Dubai, nos Emirados Árabes, que é um lugar bastante surreal. E é claro, é inesquecível para mim ter tocado com todos esses músicos fantásticos que sempre fui fã, como Derek Sherinian, Blaze Bayley, Kee Marcello… Isso com certeza é inesquecível! Também foi inesquecível ser convidado pela Ortega Guitars, uma marca alemã, para ir a sua fábrica testar seus violões e guitarras e escolher o que eu mais gostasse. E eles me pegaram como endorser, então posso utilizar seus violões, e levá-los comigo ao redor do mundo, e conhecer pessoas fantásticas. Tudo isso é inesquecível!

– O QUE VOCÊ NÃO GOSTA NO MEIO MUSICAL?

– Eu não gosto do fato de muitas pessoas acharem que a música e tudo tem ser de graça. Eu não me importo que elas pensem assim, mas elas não podem reclamar quando um artista para de lançar discos. Porque fazer um álbum é muito caro, você tem de pagar o estúdio, o engenheiro de som, a prensagem do disco, você tem de pagar licenças, você tem de pagar as plataformas digitais, como o iTunes, etc. Então algumas pessoas pensam que eu sou um mercenário quando eu cobro pela minha música, ou quando eu lanço livros de tablatura de minhas músicas. Algumas pessoas adoram, e compram os livros, e me enviam e-mails muito bacanas me agradecendo, e ficam realmente muito felizes. Mas algumas pessoas comentam em meus vídeos no youtube: “Ei, você é um mercenário tentando ganhar dinheiro com essa música”. Bem, em minha opinião, você não vai a um supermercado e pede por comida de graça. Quando as pessoas realizam um trabalho, você geralmente paga por esse trabalho. Então, eu penso que com a música é a mesma coisa, pois você tem de trabalhar duro. Eu trabalho dia e noite nisso, praticando, gravando, marcando meus shows, dirigindo até os concertos, preparando vídeos para meu canal no youtube. É um trabalho muito difícil, e algumas pessoas pensam que isso tem de ser de graça. Eu acho que elas estão erradas, e por causa dessas pessoas alguns artistas deixam de gravar álbuns, porque eles não têm dinheiro para fazer isso. Até mesmo Blaze Bayley trabalhou em uma fábrica alguns anos atrás, porque ele não tinha mais dinheiro, pois as pessoas não pagam mais por música. É uma vergonha!

– THOMAS ZWIJSEN, MUITO OBRIGADO PELA ENTREVISTA!

– Ok, muito obrigado pelo tempo concedido a mim! Espero ver vocês novamente em breve no Brasil, muito em breve.

Foto: Divulgação
Wander Verch

Wander Verch

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