Sascha Gerstner no Helloween, Sascha “Pace” no Palast

Foto: Sebastiano Ramingo
Entrevista originalmente publicada no site rockmania.com.br, em 25/08/2018

WV- Olá, Sascha, seja bem-vindo, é um prazer realizar essa entrevista!

​SG- É muito bom falar com você!

WV- Vamos voltar no tempo… Como foi o seu início na música?

​SG- Quando eu era criança eu comecei como todo mundo, na escola, quando você tem que fazer aulas de música. Eu comecei cantando muito nos primeiros anos e então eu mudei para os teclados. Eu estava muito interessado em todos os tipos de sintetizadores e em coisas que eu não podia ter quando era pequeno.Eu cresci nos anos 80 e por isso sou um grande fã de música oitentista, e então quando eu tinha 13 anos de idade eu peguei a guitarra. Meu tio é um grande guitarrista, e eu comecei a me interessar por discos de vinil e fitas cassete. Ele me gravava fitas com grandes bandas que eu ainda não conhecia naquela idade, e ia me alimentando com todo esse tipo de guitarristas de Hard Rock. O primeiro que ouvi foi Michael Schenker, e havia alguns outros também, e eu fiquei muito animado em tocar guitarra.

WV- Você tocou na Freedom Call, onde gravou dois álbuns. O que você tem a dizer sobre seus tempos nessa banda?

SG- Isso foi muito especial para mim, porque naquela época, quando Chris (Bay) e Daniel (Zimmermann) vieram me convidar para tocar na banda, eles estavam prestes a assinar um contrato de gravação. Eu tinha acho que uns 18 anos de idade, e aquilo para mim era grandioso: “Oh, é uma banda que assinou um contrato de gravação, e eu vou tocar com eles”.Eu não sabia nada sobre aquele tipo de música. Eles me passaram aquelas canções rápidas e me falaram para aprender a tocá-las e que em poucos dias teríamos de ensaiar para verem se eu conseguiria. Eu consegui, ficamos juntos e gravamos dois álbuns. Devo dizer que eles me introduziram no Power e no Speed Metal, o que é uma loucura pois eu acabei entrando no Helloween. Eu nunca teria entrado em contato com esse tipo de música se não fosse a Freedom Call.

WV- Em 2003 você entrou no Helloween. Como isso aconteceu?

SG- Eu não sabia que já havia alguns rumores sobre isso, mas depois eu li em algumas revistas. Haviam esses rumores e a ideia de Charlie Bauerfeind (produtor da banda), que eu conhecia antes do Helloween, ele estava pensando que eu me daria muito bem com Michael Weikath,o que ao final se concretizou. Ele me ligou e disse: “Ei, tenho um trabalho para você, talvez seja somente gravar um álbum, nós precisamos de um guitarrista de estúdio, é com o Helloween. Michael vai te telefonar dentro de alguns dias”. Mas naquela época eu não estava mais nesse tipo de música, eu estava concentrado compondo músicas pop e produzindo outras bandas. Eu pensei algo como: “Ok! Eu não tenho certeza, mas vamos ver o que acontece”. Então 30 minutos depois Michael me ligou. Daquele dia em diante nós conversamos muito, e durante quatro semanas nós saíamos juntos. Então eles me convidaram para passar um fim de semana com eles, mas naquela época eu tinha uns 25 anos, e isso era uma grande coisa para mim, voar para algum lugar com novas pessoas, com novos músicos. E foi assim que aconteceu. Então nós gravamos o álbum “Rabbit Don’t Come Easy”. E somente quando nós fizemos a gravação de um vídeo e uma sessão de fotos eu percebi que estava na banda, porque eu estava nas fotos.Eles nunca me convidaram oficialmente para entrar na banda. Foi algo como: “Ok, nos demos bem, você pode tocar, você pode escrever músicas”.Eu entreguei algumas ideias de músicas para o primeiro álbum, eles estavam felizes, eu estava feliz, e estamos juntos desde aquele dia. 

Foto: Divulgação

​WV- O que significa para você fazer parte de uma banda lendária do Heavy Metal?  ​

SG- Quando era mais jovem eu não sabia o que iria acontecer. Para mim era como se estivesse em uma cena diferente, com visuais diferentes, em que eu estou até hoje. Eu não estava preparado para certas coisas. Para ser honesto, o primeiro álbum que fizemos tinha um prazo para estar pronto, nós tínhamos algumas músicas e devíamos saber tocá-las.Eu não conhecia a banda muito bem, eu conheci o Markus e o resto dos caras quando fomos ensaiar para o álbum. Eu ainda estava me adaptando, eu não sabia a grandeza da banda, eu não sabia que impacto isso teria. Para mim era como: “Ok, essa é uma banda de Heavy Metal“. Eu estava tocando Heavy Metal novamente. Eu não estava realmente ciente do que iria acontecer e do grande impacto na minha vida. Mas naquela época eu não pensava: “Oh, essa banda lendária e eu quero fazer isso”. Eu não tinha certeza no começo, realmente não tinha certeza. Eu sei que não é isso que os fãs querem ouvir, eles querem ouvir a história de alguém que é fã da banda e é escolhido para se juntar a ela, como se fosse um sonho se tornando realidade.No fim esse sonho se tornou realidade, devo dizer, porque essa é uma vida privilegiada, fazer turnês, gravar álbuns e tocar em grandes shows. Eu realmente adoro isso! Mas quando você tem 25 anos é muito difícil se adaptar a esse estilo de vida. É uma grande mudança de vida, com muitos países para visitar. E há muita pressão que eu não sabia que haveria quando comecei, sendo comparado a outros guitarristas, em todo esse cenário de competição. Eu não sabia como agir, como interagir com as pessoas. Então,demorou um pouco, com alguns problemas, mas aqui estamos!

​WV- Agora vamos falar da Palast. Como nasceu essa banda?

SG- Eu criei este alter ego chamado Pace, Sascha Pace, porque meus companheiros de banda disseram que seria muito legal aparecer com um apelido, porque eu sou multi-atarefado e estava voltando com a fotografia após 10 anos, onde eu fazia muito sucesso.Eu não queria interferir com o personagem do guitarrista de Heavy Metal sendo o personagem do fotógrafo, e quando eu estivesse fazendo diferentes tipos de músicas eu queria utilizar um personagem diferente, algo como um ator. Você muda a cena, muda a aparência, muda o visual, muda a música. Demorou alguns anos, e eu sempre quis fazer algo parecido, mesmo antes de ter entrado no Helloween. No Palast nós somos em três. O Tommy (Apus), por exemplo, eu conheço há muito tempo, e ele já havia me convidado para entrar em estúdio antes de eu entrar no Helloween. Nós já estávamos gravando algumas coisas e ele me disse: “Ei, você é um grande cantor, vamos fazer alguma coisa juntos”. Quando nós começamos a escrever músicas juntos e gravar algumas coisas eu recebi a ligação do Helloween, e então minha vida mudou e perdemos um pouco o contato.Desta forma, agora estamos gravando bandas e produzindo coisas,pois nós temos um estúdio de gravação juntos. Quando eu estava mais relaxado, creio que depois da “Hellish Rock Tour I”, com o Gamma Ray, nós tivemos um tempo livre e começamos a compor novas músicas, com mais tempo para as nossas coisas. Quando não tenho nada para fazer no Heavy Metal, nem com o Helloween, eu componho as minhas músicas.Talvez eu deveria fazer algo com isso. Então, ao longo dos anos eu trabalhei com diferentes músicos, e encontrei esses dois caras, o Tommy novamente e o Marc (Engel), para em 2015 formarmos o Palast. Nós gravamos um EP, tocamos em eventos de moda, fizemos turnê pela Alemanha, e lançamos o álbum oficial no ano passado. E nesse cenário ninguém sabe que sou guitarrista do Helloween, porque eu criei esse personagem.

Foto: Divulgação

WV- Como você avalia a receptividade do álbum do Palast?

​SG- A maioria das pessoas que nos descobrem não são da cena do Metal, eles não sabem quem eu sou ou de onde viemos. Para elas somos apenas uma nova banda de Berlim. Quando o álbum foi lançado nós tivemos reações de fato muito positivas, de diferentes cenas. Do underground, da cena gótica, que é muito forte na Alemanha. Somos muito comparados com Depeche Mode, com Hurts, e esse tipo de bandas. Então entramos nessa cena gótica, e começamos a trabalhar com pessoas do mundo da moda.Para eles o seu trabalho combina com a música. Quanto a receptividade na cena Metal, eu não sei. Eu conheço músicos o tempo todo, e eles me dizem: “Ei, eu descobri o seu projeto, que é legal e eu não te imaginava tocando esse tipo de música”. Tendo em vista que eu nunca fiz um anúncio oficial: “Eu sou Sascha Pace e eu tenho essa banda, Palast”. Mas, mais e mais fãs de Heavy Metal estão descobrindo isso, e alguns têm a mente muito aberta, e estão escrevendo coisas muito legais a respeito. Vamos ver onde isso vai parar dentro de alguns anos, eu não sei. 

WV- E seus trabalhos como produtor musical, como está essa área de sua vida?​

SG- Hoje em dia eu não estou produzindo muito mais. Eu tenho um pequeno estúdio de mixagem e gravação, e às vezes eu mixo álbuns para algumas bandas. Eu faço principalmente a parte de produção do Palast. Eu e Tommy produzimos todas as músicas juntos. Ao longo dos anos eu estava coletando equipamentos antigos, da década de 80. Eu sou apaixonado pelas coisas antigas, sem usar muito a tecnologia de computadores. Então, todas as técnicas de produção eu uso principalmente nas minhas próprias bandas.

WV- Como é seu lado voltado para a arte da fotografia?

SG- Eu passei a me interessar muito pela fotografia, mas nem sei como isso aconteceu. Quando eu comecei era mais ou menos como um hobby, para passar os dias durante as turnês. Eu comprei uma câmera, e fiquei fotografando as pessoas. Quando voltei da turnê eu mostrei as fotos para alguns amigos, e um deles trabalha com publicidade, e ele disse: “Uau, isso é incrível! Você bateu belas fotos, vamos ver se conseguimos trabalhar em algo juntos”. Alguns meses depois peguei os primeiros trabalhos, produzindo fotos de catálogos e coisas do tipo. A coisa foi crescendo, crescendo e crescendo, e então eu entrei para o cenário da moda, fotografando para catálogos e campanhas. Às vezes eu fotografo bandas também. Mas eu só posso fazer essas coisas quando não estou em turnê. 

WV- O que você não gosta no meio musical?

SG- Quando eu era mais jovem eu realmente gostava de aeroportos, mas hoje em dia isso está se tornando muito cansativo. Temos pouco tempo para dormir, precisamos ficar correndo de avião para avião. Viajar às vezes pode ser muito cansativo.Mas por outro lado é compensador, pois é uma vida linda, é ótimo! Subindo no palco você pega de volta a energia, é brilhante! Agora que estou ficando mais velho eu posso até aproveitar mais do que quando era mais jovem.

WV- Como é para você tocar no Brasil?​

SG- O Brasil sempre foi um destaque. Na verdade, o primeiro show que eu toquei com o Helloween foi no Brasil. Eu vivi momentos muito especiais aí, e os últimos shows que fizemos aí foram maravilhosos, então eu adoro! Eu adoro as pessoas, os seus sorrisos, eles estão felizes a maior parte do tempo. É muito bom!

WV- Agora, uma pergunta para descontrair: Se você pudesse toca em qualquer banda da história da música, qual seria e por quê?

SG- O primeiro nome que me vem em mente é do Genesis. Genesis é uma de minhas bandas favoritas. De lá vem dois de meus ícones favoritos: um é Peter Gabriel e o outro é Phil Collins. A música deles me influenciou muito quando eu era jovem. Então, fazer um som com o Genesis seria incrível! E tem outra banda que eu realmente gostava quando era jovem, que é a banda Toto. Eu acho eles musicalmente incríveis, e eles compuseram músicas brilhantes. Então seria uma grande experiência tocar com esses caras.

WV- Sascha, muito obrigado pela entrevista!

​SG- Ok! Paz… Divirtam-se! Muito Obrigado!

Foto: Divulgação
Wander Verch

Wander Verch

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