Al Pitrelli, guitarrista e diretor musical

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Entrevista originalmente publicada no site rockmania.com.br, em 26/01/2017

WV- Olá, Al Pitrelli! Seja bem-vindo, é um prazer realizar essa entrevista contigo!

​AP- Muito obrigado por me receber, é um prazer! Obrigado!

WV- Conta pra gente como foi que você despontou para a música!

​AP- Eu comecei no “New York Studio”, fazendo diferentes gravações, demos, gravando com um monte de pessoas. O primeiro show de verdade que eu fiz, acho que foi em 1985, com Michael Bolton, quando ele era um cantor mais Rock And Roll, e então fazia sentido. Se você ouvir Michael Bolton hoje é um pouco mais “contemporâneo”, mas naquela época ele era um verdadeiro roqueiro. Por isso, foi bastante divertido. A partir dali eu trabalhei com vários outros artistas, como John Lynn Turner, com quem passei algum tempo. E então, em 1989, eu consegui meu primeiro grande trabalho como diretor musical com Alice Cooper.

​WV- Já que você tocou no assunto, como foi trabalhar com Alice Cooper?​

AP- Eu trabalhei na turnê do disco “Trash”. Nós gravamos um DVD da apresentação ao vivo na Inglaterra. E então eu trabalhei com ele no disco “Hey Stoopid”. Eu fui seu diretor musical por cerca de dois anos. E isso foi muito divertido, eu aprendi muito com Alice, que é um grande cara, um grande professor e obviamente grande artista. Então essa foi a primeira vez que eu viajei o mundo, estando realmente em uma grande banda de Rock, tocando em arenas. Foi um sonho que se tornou realidade. Foi a muito tempo atrás, mas eu me lembro como se fosse ontem.

WV- E você tem contato com Alice Cooper atualmente?

AP- Não muito. Nós nos cruzamos de vez em quando, o mundo é bem pequeno hoje em dia. Eu vi um show dele há alguns anos atrás, em alguma arena no Norte. Eu toquei em uma noite, e ele na noite seguinte, e tivemos a felicidade de ficar no mesmo hotel. Tomamos um café juntos e conversamos um pouco. No facebook nós nos perguntamos como estão as famílias. Mas nós não mantemos tanto contato porque ele está sempre tão ocupado quanto eu.

WV- Agora relembrando seus tempos na banda Asia, com a qual você gravou dois discos, Aqua e Aria. Como foi esse período?

AP- Foi incrível, porque eu pude trabalhar com alguns dos meus herois. Trabalhar com Steve Howe, Geoff Downes e Carl Palmer. Foi maravilhoso gravar no Advision Studios, em Londres, que é um estúdio muito lendário. Esse foi outro sonho que se tornou realidade. Tocar com os caras que eram do Yes, do Emerson, Lake & Palmer, do King Crimson, e então gravar um disco com eles. Simon Phillips veio e tocou bateria em algumas faixas. Então, me senti, como dizem: “como uma criança em uma loja de doces”. Eu estava muito feliz.

​WV- E como foi tocar com Dee Sinder, na banda Widowmaker?​

AP- Foi muito divertido, porque Dee tinha apenas o Twisted Sister, e eu estava apenas com Alice Cooper. Nós morávamos na mesma parte de Nova York, começamos a compor músicas juntos e ficamos muito amigos. Então nós começamos a banda juntos. Gravamos dois discos, fizemos turnês… Tivemos bons momentos juntos. Eu acho que fiquei uns 4 ou 5 anos com Dee, e hoje continuamos em contato. Ele é um grande cara, um ótimo cantor e compositor, e realmente uma boa pessoa para se ter ao redor. Ele trabalha muito sério e eu aprendi muito com ele.

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WV- Deve ser realmente muito prazeroso poder trabalhar com lendas do Rock como Alice Cooper, Dee Snider…

AP- Sim, e essa é a melhor parte, porque às vezes eu estou no palco e olho ao redor, e penso dentro da minha cabeça: “Oh, meu Deus, esse é Alice Cooper, esse é Dee Snider. Eu cresci ouvindo suas músicas e agora estou tocando suas músicas com eles, ou então uma música nova que escrevi com eles”. É uma grande conquista, eu sou realmente muito orgulhoso de poder continuar trabalhando e tocando com essas lendas. E foram tantas que eu já estive junto… A mais recente foi quando trabalhei com Paul Rodgers, que veio para tocar com a Trans-Siberian Orchestra no mês passado, em nosso último show. Estar no palco com ele e tocar sua música, que eu tocava há 40 anos atrás na casa de minha mãe. Foi a mesma coisa quando trabalhei com Joe Walsh, tocar “Life’s Been Good” e “Rocky Mountain Way”, com Joe Walsh cantando, e não com uma banda cover, foi muito emocionante.

WV- São tantos artistas e bandas que você já tocou junto. Outra delas é o Megadeth. Como foi tocar com Dave Mustaine e companhia?

AP- Foi ótimo! Novamente, poder trabalhar com alguém que você admira musicalmente, que você respeita. Eu aprendi muito com Dave Mustaine, ele é um músico tão talentoso, um grande compositor e um ótimo guitarrista. Toda a banda, formidável. Foi a primeira vez que estive em uma banda onde todos tínhamos a mesma idade, não havia 15 ou 20 anos entre nós. Ele trabalha tão duro! Ficamos entre turnês e gravações por quase dois anos sem parar. Fizemos o “Capitol Punishment”, onde eu toco em uma música (nota do editor: este disco é uma coletânea, e a única música inédita nele é “Kill The King”). E então, o “The World Needs A Hero” e o “Rude Awakening”. É muito trabalho em dois anos, e nós fizemos turnês por toda parte. Fomos a lugares que eu nem sabia que existiam, mas haviam grandes fãs do Megadeth por todo o mundo. Era muito divertido. Isso fez de mim um guitarrista melhor, me fez apreciar muito mais esse estilo de música, que é muito difícil de tocar. Nós fizemos a primeira turnê da Trans-Siberian Orchestra em 1999, e assim que ela terminou eu fui tocar com o Megadeth por dois anos. Então foi um ponto interessante em minha vida, que foi bom para mim naquela época. Eu tive de trabalhar com músicos diferentes e explorar diferentes estilos de música, que eu não tive oportunidade antes. Tudo é uma experiência de aprendizado, todos os dias eu acordo e quero aprender algo novo, e eu aprendi muito trabalhando com David Ellefson, Dave Mustaine e Jimmy DeGrasso.

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WV- Você teve uma missão nada fácil substituindo Marty Friedman…

​AP- Provavelmente foi uma das coisas mais difíceis que já tive de fazer como guitarrista, porque ele é um grande guitarrista, com um estilo bastante único e diferente. Eu não estava muito familiarizado com isto. Eu o ouvi tocar, mas aprender suas músicas, aprender seus solos de guitarra, foi muito desafiador. Realmente me tornou muito mais disciplinado e muito mais focado no meu trabalho. E Dave não queria ouvir uma versão, ele queria ouvir o solo exatamente do jeito que foi gravado. Eu cresci praticando Jazz e Blues, onde você não toca a mesma coisa duas vezes. Megadeth e Dave Mustaine tocam exatamente da mesma maneira todas as noites, porque é isso que as pessoas na plateia querem deles.

WV- E o Savatage, nos fale como está essa banda que tem muitos fãs mundo afora!

AP- Eu comecei com eles em 1995, e não muito tempo depois nós lançamos o disco “Dead Winter Dead”. Então imediatamente começou a nascer a Trans-Siberian Orchestra. Então as duas bandas continuaram por um tempo, mas a TSO ficou tão grande que tomou toda a nossa atenção. Então o Savatage ficou inativo por um tempo… Nós nos apresentamos no Wacken em 2015 como headliners, e foi ótimo tocar com os caras novamente. Eles estão falando em pegar a estrada novamente, ou talvez gravar um novo disco, mas eu não tenho certeza quando.

WV- O Savatage que já viveu bons momentos no Brasil, não é mesmo?

AP- Sim, sim! Eu lembro que tocamos no Monsters Of Rock há alguns anos atrás (nota do editor: em 1998). Foi formidável tocar nossas músicas para tantas pessoas, foi emocionante para nós seis estarmos juntos no palco novamente, e nós realmente adoramos. Foram muitos shows, muitos bons amigos, e muita diversão. Nós devemos voltar para o Brasil, nós adoramos tocar aí, vocês são loucos.

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WV- Nos anos 90, com você na banda, foram gravados dois discos: “Dead Winter Dead” e “The Wake Of Magellan”. O que você acha desses álbuns?

AP- Ambos tiveram momentos muito especiais. “Dead Winter Dead” foi a primeira vez que gravei com a banda. No “The Wake Of Magellan” eu compus algumas músicas, o que eu tenho muito orgulho. Eu acho que foi ótimo tocar nesses dois álbuns, os dois têm músicas formidáveis, e foi um momento em que a banda estava muito forte.

WV- Como é seu relacionamento com Jon Oliva?​

AP- Ele é uma das pessoas mais agradáveis e felizes que eu conheço, ele é como um irmão. Nós nos divertimos muito juntos, e também enfrentamos alguns problemas juntos. Ele é um músico brilhante, compositor, pianista, cantor… Ele é definitivamente um em um milhão.

WV- Como é seu trabalho como diretor musical?

AP- Como um diretor musical você faz um monte de tudo. Você tem de ser o chefe, você tem de ser o cara mau às vezes. Você precisa conhecer as partes do seu instrumento, e as partes de todos os outros instrumentos também. Você tem que ser capaz de falar a linguagem musical fluentemente. Às vezes você precisa não falar numa linguagem musical, porque algumas pessoas na banda podem não entender. Você precisa ser capaz de se comunicar não apenas com um cantor, mas com vários cantores. Você tem que ter certeza de que em cada noite, todo show seja um show perfeito. Eu preciso me comunicar com a equipe, e conduzi-la. Por exemplo: se algo der errado eu tenho de resolver ali mesmo, porque as pessoas na plateia querem um grande show, e não importa se algo tecnicamente deu errado. Meu trabalho é reagir as circunstâncias e resolvera situação calmamente. É quase como ser o treinador de uma equipe de futebol. Você tem um monte de gente ao seu redor e eles são apenas uma orientação e eles querem fazer um bom trabalho e meu trabalho é ajudá-los a aprender a fazer um bom trabalho.

WV- O que você não gosta no meio musical?​

AP- Eu não sei. Às vezes você ouve coisas ruins sobre as gravadoras, às vezes você ouve coisas ruins sobre os músicos. Eu acho que o mais importante é você aprender a viver com os dois lados. A única coisa que eu realmente não gosto é ter de ficar muito tempo longe de minha família. Se você tem uma boa vida em casa você não quer perder nenhum momento com sua esposa, suas crianças, sua família. E às vezes, você sendo músico precisa ficar longe disso tudo. Você tem que aprender a equilibrar isso.

WV- Você já tocou em várias bandas, com artistas diferentes, sei que as experiências são muitas em sua vida. Mas conte-nos algum momento marcante em sua carreira, algum que lhe venha na mente agora.

AP- Eu acho que o momento mais interessante foi na época que tocava com Alice Cooper. Nós estávamos fazendo um show em Londres, e quando olhei para baixo, Jimmy Page estava na plateia, assistindo nossa apresentação. Desde garoto, cresci ouvindo Led Zeppelin, e isso é algo que vai ficar comigo para sempre.

WV- Que dicas você daria aos músicos que estão nos ouvindo nesse momento, e almejam algo mais dentro da música?

​AP- Trabalhem muito duro, vocês precisam amar isso mais do que tudo, porque para fazer algo por muito tempo e não fazer nenhum dinheiro, vocês precisam estar apaixonados por isso. Vocês têm de amar isso mais do que o ar que respiram, ou mais do que o sangue em suas veias. Vocês têm alguns dos melhores lutadores do mundo em seu país, e eu adoro MMA, eu treino todos os dias para lutar. Eu aprendi do Jiu-Jitsu brasileiro que você deve amar isso, porque é doloroso, é incômodo, é horrível enquanto você está fazendo, mas a cada dia você vai ficando um pouco melhor. Você não está fazendo isso pelo dinheiro, você está fazendo isso porque você ama essa forma de arte que é a música. Você precisa ter foco, ser melhor do que todos, e querer isso mais do que qualquer outra coisa. Não se preocupe com dinheiro, apenas se preocupe em ser grande em algo.

WV- Al Pitrelli, muito obrigado pela entrevista, seja sempre bem-vindo!

AP- Muito obrigado pela entrevista! Estou sempre disponível.

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Wander Verch

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