Roland Grapow e suas palhetadas, do Helloween ao Masterplan

Foto: Reprodução
Entrevista originalmente publicada no site rockmania.com.br, em 12/12/2018

WV- Olá, Roland Grapow! É um prazer falar contigo, seja bem-vindo!

​RG- Muito obrigado por me receber, é sempre bom falar com você!

WV- O mais recente álbum do Masterplan é o “PumpKings”, de 2017, com regravações de músicas de seus tempos de Helloween. Fale-nos sobre ele!

​RG- Eu acho que ele é bem legal. É claro que tem muitas opiniões controversas, principalmente de alguns fãs do Helloween que ficam perguntando por que nós fizemos isso, por que gravamos músicas do Helloween, blá blá blá… Eu gravei somente minhas músicas, minhas próprias composições. Até algumas delas vêm dos tempos de Rampage, 10 anos antes de eu entrar no Helloween. Para mim foi mais um lance de sentimento, nada muito sério e aprofundado, ou como uma vingança, nada disso! Apenas trouxe meu bebê de volta para o papai. Nós já tocávamos algumas músicas dessas algumas vezes, como a “The Chance”, há uns quatro ou cinco anos atrás. E temos tocado também a “The Time Of The Oath” em nossos shows, o que é muito legal, muito divertido!

WV- E existem também fãs que gostaram muito do “PumpKings”…

​RG- Oh, isso é legal! Especialmente quando você não está pensando muito nisso hoje em dia. E as pessoas dizem: “Eu gostei muito, são realmente ótimas músicas e a produção está muito boa. Eu ainda adoro sua guitarra”. Eu ainda sou capaz de tocar minhas antigas partes de solo, e muito bem, para ser sincero. Algumas das músicas eu não tocava há 20 anos. Então, é legal quando você consegue chegar ao nível dos velhos tempos, quando era jovem e tocava guitarra de 6 a 8 horas por dia. Algo que eu não estou mais fazendo há muitos anos. É como dirigir um carro ou andar de bicicleta, você não esquece como se faz. Está no cérebro, não precisa pensar muito.

WV- Tem alguma música que você gosta mais no “PumpKings”?

RG- É difícil dizer. Eu acho que é apenas um tipo diferente de feeling. Algumas das antigas produções do Helloween, eu não gosto muito, porque não são perfeitas para o meu gosto, comparando com o gosto da banda naquela época. Como por exemplo, em 1993, quando gravamos “Music”. Eu acho que uma banda pode soar mais forte com um produtor diferente, com um estúdio diferente. Eu gosto muito da “Music”. Ela talvez não seja uma típica música Metal, mas eu a compus quando tinha uns 19 anos de idade, para o Rampage. Então, ela continua sendo uma das músicas que eu gosto muito, porque ela tem muito Feeling. É mais um Rock Blues do que uma canção de Metal. Mas, todavia, eu gosto do oposto também, como “Escalation 666” e “The Dark Ride”. Eu gosto dessa nova atualização, mesmo que não haja uma diferença tão drástica no som, porque o álbum “The Dark Ride” já soa muito bem.

WV- Falando agora de seu trabalho como produtor musical, quais são as maiores dificuldades, que você observa, enfrentadas pelo músicos atualmente?​

RG- Antigamente, quando as bandas estavam em estúdio, podiam tocar todos juntos, como se estivessem ao vivo. Eu me lembro quando gravei meu primeiro disco com o Helloween, nós tocávamos a banda toda, com a bateria tocando junto. E hoje em dia, todos tocam separadamente no estúdio, o que dá um feeling totalmente diferente. A maioria dos músicos não sabe a sua parte no estúdio, eles não estudam, são mais preguiçosos. Todos estão acostumados a tocar no computador, fazendo parte por parte. Para ser sincero, às vezes eu faço o mesmo como guitarrista. No fim, tudo fica ótimo, mas a progressão era totalmente diferente há uns 20 ou 30 anos atrás. Todos sabiam exatamente o que fazer, todos sabiam a sua parte do solo, a sua parte do vocal. Hoje em dia é como se fosse um quebra-cabeça, e o produtor, como eu, tem de juntar todas as peças para no final ficar bom. E por outro lado, algumas bandas não tocam bem, não se preparam como deveriam, mas o produtor vai deixar tudo legal (risos). É algo como: “Por que nós não soamos como o Metallica?”. “É porque vocês não tocam como o Metallica”, talvez essa seja a diferença (risos). Mas, em geral, eu tento ajudar todas as bandas, não importa em que nível elas estejam, esse é o meu trabalho.

Foto: Facebook Grapow Studios

WV- Você trabalha com bandas de diferentes estilos musicais?

RG- Sim, sim! Às vezes progressivo, outras vezes como Dimmu Borgir, Behemot, esse tipo de som, realmente “dark”, brutal. Eu gosto desse estilo, porque é mais voltado a bateria, guitarra e vocal. Mas outras bandas têm muito teclado, coros e “overdubs”, o que, para ser honesto, é muito mais difícil de mixar. Eu gosto desse tipo de guitarras Thrash Metal, desse tipo de som, é mais fácil de mixá-lo. Eu gosto da brutalidade. Algumas bandas perguntam por que eu faço as músicas soarem tão brutais, tendo eu vindo do Helloween, e do estilo do Helloween, que é o Metal melódico. Eu amo isso! Eu gosto do som de guitarras extremas, eu gosto do som de baterias extremas. Esse é o meu estilo. Muitas pessoas que acompanham a minha carreira sabem que eu sou um grande fã de Rammstein. Eu gosto do som das guitarras, e da bateria também. É uma produção muito boa!

WV- Como você faz para se manter atualizado na área de produção musical?

RG- Eu não posso parar. Preciso estar sempre pesquisando as novidades na Internet, os novos produtos. Eu também estou sempre me atualizando com sons de outras bandas, especialmente quando músicos de 20, 24 anos de idade, ou até mesmo de 18, 16 anos, vêm ao meu estúdio e dizem: “nós queremos soar como essa banda”. Mas eu nunca a ouvi, e então eu preciso pesquisar. Mas a maioria das bandas que eu pesquiso, não fico procurando pelos seus músicos, mas sim quem fez a mixagem, quem é o produtor da banda. Tem uns caras realmente famosos que eu gosto muito, como Jens Bogren, ou meu amigo Andy Sneap. Esses caras talvez sejam minhas maiores influências, mas também outros caras mais velhos, como Martin Birch ou Randy Staub, que já fizeram excelentes trabalhos.  

​WV- E qual é a sensação que você tem quando finaliza uma música e a escuta?​

RG- Eu acho que o básico é: eu nunca estou satisfeito, para ser honesto. Eu tento fazer o melhor possível durante o processo de mixagem da música. Quando a banda diz: “nós estamos felizes, adoramos isso”, eu continuo pensando: “poderia estar melhor, eu não estou realmente feliz”. Mas, daí quando eu escuto a música depois de uns dois meses sem ter contato com ela, eu penso: “Oh, meu Deus, isso é bom!”

WV- O que você gosta de fazer quando não está tocando ou trabalhando em seu estúdio? Você tem algum hobby?

RG- Isso pode soar como coisa de um cara velho, mas eu adoro passear com meu cachorro todos os dias quando eu saio do estúdio. Quando tenho clientes, é claro que daí não posso fazer isso, porque eles ficam das 10h até às 8h da noite. Mas normalmente, todos os dias, quando não tem bandas aqui, eu passeio com meu cachorro, por cerca de uma hora. Então, é uma coisa simples, apenas para sair do estúdio. Se você fica dentro de casa o tempo todo, você precisa de um pouco de ar fresco, precisa de um pouco de inspiração. Eu moro na Eslováquia, no interior, cercado por montanhas e uma natureza muito bonita. Pra ser sincero, eu sinto muita falta da cidade grande. Eu sou de Hamburgo, eu adoro praias! Nós não temos isso aqui, mas o interior da Eslováquia é lindo e é bom de se passear.

WV- Roland, voltando no tempo agora, que momentos você poderia dizer que foram mais marcantes em sua carreira?

RG- Eu não sei, são tantas recordações importantes que eu tenho. Eu penso que ter entrado no Helloween foi uma parte importante, porque senão eu acho que hoje não estaria nesse negócio da música, e teria uma vida completamente diferente. Foi um grande desafio para mim entrar na banda, e até mesmo sair do Helloween talvez tenha sido outro momento importante. Talvez não para os fãs, mas para algumas pessoas na banda (risos). Eu estou feliz por estar no negócio da música, com o estúdio e com o Masterplan. As pessoas continuam me escrevendo sobre os anos de Helloween. É um bom sentimento, eu tenho muito orgulho disso!

Foto: Reprodução

WV- Como você acompanhou o desenrolar do Rock, da música mais pesada, desde seu início na música até os dias de hoje?

​RG- É uma grande diferença! Eu me lembro que quando entrei no Helloween, no final dos anos 80, era uma época perfeita, com venda de álbuns, com muitas pessoas vindo aos shows. E tudo mudou drasticamente. O negócio da música realmente não é mais tão fácil. Eu acho que somente as grandes bandas fazem bons negócios, como o Metallica, a reunião do Helloween, é claro, Iron Maiden, Kiss, Scorpions… Todas elas fazem grandes negócios, mas muitas outras bandas de um nível normal… É difícil falar, mas elas lutam, elas lutam muito. Eu acho que para as bandas novas não é nada fácil, porque todos estão fazendo downloads e esse tipo de coisas. Mas você vê que muitas dessas bandas têm o sonho de que dê certo. Algumas estão conseguindo, umas já não tão novas, como Sabaton e Amon Amarth. Essas bandas fazem um negócio incrível, e eles conseguem sobreviver. Eles têm muitas pessoas indo aos shows. Assim como o Nightwish, outra banda não tão nova, e eles são realmente grandes. Mas você vê, muitas bandas fazem grandes negócios, e outras nem tanto, e é difícil para elas sobreviverem. Eu penso que nos anos 80 todas bandas tinham como fazer boas vendas. Muitas pessoas podiam viver da venda dos discos, do merchandising e das turnês. Mas, hoje em dia eu poderia dizer que apenas 10% consegue isso. Para o resto, não é tão fácil.

WV- Uma pergunta para descontrair um pouco: Se você pudesse fazer parte de qualquer banda da história da música, qual seria ela e por quê?

​RG- Eu não sei! (risos) Talvez eu não seja o maior fã da banda que estou pensando agora, mas seria divertido fazer parte dos Beatles (risos). Por todo sucesso que eles fizeram nos anos sessenta, as brilhantes composições e produção para aquela época. E eles também eram grandes músicos. Eu penso que seria legal fazer parte disso. Por outro lado, eu já disse muitas vezes, o que talvez tenha sido o comentário mais bobo que eu já fiz, mas eu adoraria fazer parte do Rammstein (risos). É totalmente diferente do estilo de música pelo qual eu sou conhecido, mas eu gosto da energia deles, eu gosto muito das performances ao vivo, e sou realmente um grande fã deles. Mas, eu tenho certeza que não consigo compor músicas assim. Eu sou um cara melódico, e as pessoas conhecem o meu estilo de composições no Masterplan, no Helloween e nos meus discos solo também. Então eu venho de um estilo diferente, mas eu gosto desse tipo de música. Quando eu vi a banda três vezes ao vivo pensei: “Oh, meu Deus, eu quero estar no palco com eles”. Eu conheci os caras no backstage, e eles são pessoas muito legais.

WV- Roland, eu não iria tocar no assunto, mas eu preciso te falar uma coisa: a reunião do Helloween parece incompleta sem você. 

​RG- Obrigado, obrigado! (risos) Pra ser sincero, foi muito difícil para mim ver todo o sucesso que eles tiveram, com todos os fãs os seguindo tanto, foi tão legal… Mas, agora eu estou realmente tranquilo, para ser honesto.  Eles não vão parar, eles vão continuar, e eu estou realmente feliz pelos fãs. Por que não? Está tudo bem! (risos)    

WV- Desculpe por ter tocado nesse assunto…​

RG- (risos) Não, é uma coisa engraçada! Os fãs me escrevem dizendo isso que você falou, e eu fico muito feliz pra dizer a verdade. Eu fico muito feliz de receber essas mensagens privadas. Músicos vêm ao meu estúdio e falam: “Sou um grande fã seu há uns 25 anos, desde que eu era jovem”. Eles continuam jovens, mas eles tinham 16 ou 14 anos de idade, na época do Master Of The Rings mais ou menos, e eu fico realmente feliz com isso. E é isso que devemos aprender, e não ficar dizendo: “Oh, eu sou um frustrado”. Você deve estar feliz com tudo que você fez em sua vida. Não há razão para ficar negativo. Ninguém que ver isso, ninguém quer ouvir isso. No final isso te deixa doente, isso não é bom para ninguém. Este é apenas um conselho para todos neste planeta: Não seja invejoso, não seja negativo. Se você ler as minhas letras, seja em meu trabalho solo, no Helloween ou no Masterplan, você vai ver esse tipo de esperança e mensagens positivas.

​WV- Roland, estamos chegando ao final, eu já roubei bastante o seu tempo…

RG- (risos) Não roube meu tempo! (risos) Não roube meu tempo, eu sou velho demais pra isso. (risos) Eu preciso do meu tempo! (risos) Eu poderia escrever uma nova música do Masterplan sobre isso. (risos)

​WV– Roland Grapow, muito obrigado pela entrevista e seguimos sempre à disposição!

​- Muito obrigado por esta agradável entrevista, foi um prazer!

Foto: Leca Suzuki
Wander Verch

Wander Verch

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